sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Análise de redação

Seguem os comentários sobre o texto publicado no post anterior. Por meio dessa análise, serão apresentados pontos importantes para a elaboração de uma boa dissertação-argumentativa.
O tema: Norma culta: tradição, necessidade ou instrumento de poder?
As reflexões iniciais
Antes de começar o texto, eu já tinha opinião formada sobre o assunto. Sendo da área de Letras, já participei de muitos debates sobre o tema e, também, bastante coisa já li a respeito desse tópico.
Não penso que a norma padrão da língua portuguesa seja mais importante que as outras variantes de comunicação. Porém, acho hipocrisia dizer que essas normas não são necessárias. É claro que são! Em algumas situações, é preciso seguir o padrão gramatical sim.
Então, dentre as opções apresentadas, defenderei a norma culta como necessidade.

"O falante deve ser poliglota em sua própria língua".
                                                                 Evanildo Bechara

Parênteses
(Sei que é batido comparar a adequação linguística à adequação em relação às vestimentas, mas me lembrei de uma situação interessante.
Em uma escola em que trabalho, um aluno, adolescente, estava revoltado porque havia sido advertido em relação à roupa que estava usando para ir à escola. Ele estava indo com calça rasgada, gorro e pantufas. Isso mesmo: pantufas!! E depois que a direção da escola ligou para a mãe dele informado a situação, e ele levou uma bronca, veio desabafar comigo. Ele disse que não usar o uniforme completo não significa que ele esteja desrespeitando a escola, disse que as suas roupas em nada influenciariam seu rendimento escolar. É claro que eu concordei com ele!! É claro até que eu o entendi. Mas tive que falar sobre a necessidade de adequação. Perguntei a ele se eu seria respeitada pela turma se fosse dar aula com calça da Gang, marquinha de biquíni aparecendo e barriga de fora. Ele disse que não, reconheceu que seria inapropriado. E olha que meus alunos não vêem em mim uma senhorinha. Eu tenho 30 anos e eles me acham descolada, jovem e tal...
Pois bem... com a Língua acontece a mesma coisa. O fato de eu ser jovem não me dá o direito de usar, por exemplo, em uma apresentação acadêmica, as gírias que eu uso quando estou com meus amigos. Não me dá o direito de escrever um texto profissional iniciando o período com pronome átono. Talvez isso tudo sejam convenções sociais - e questionar as convenções é sempre importante - mas... acho difícil uma pessoa ser tão livre, ser tão autônoma a ponto de não precisar segui-las.)
É o seguinte: em tudo isso eu pensei antes de começar o texto. E, para quem acha que é perda de tempo pensar muito antes de iniciar a redação, eu digo ser esse momento essencial para a produção de um bom texto. Não começamos a redação quando iniciamos a escrita, começamos a redação quando começamos a pensar sobre o tema.

O roteiro
Todas as minhas reflexões sobre o assunto foram postas no papel de rascunho e, depois, eu selecionei quais argumentos seriam mais fortes e em que ordem eu iria apresentá-los.
Nesse momento, o meu texto já tinha uma cara, já formava um todo coerente, com posicionamento definido e ideias para sustentá-lo.

A introdução
Vejam o início:
Os debates em torno do uso normativo da língua são sempre polêmicos. A expressão “linguagem culta” já é motivo para discussões, uma vez que, para muitos, tal expressão seria uma maneira de dizer que aqueles que não dominam a variante formal são incultos.
Reparem que em todo esse trecho, não houve posicionamento meu a respeito do tema proposto. Até esse momento, eu só falei sobre o assunto, de maneira geral.

Agora, vejam o final da introdução:
O importante a se pensar, porém, é que ainda que a coloquialidade tenha seu espaço em determinados contextos, conhecer a norma culta – ou padrão – é imprescindível.
Reparem que nesse momento sim eu me posiciono. A banca propôs que eu defendesse o uso da norma culta como tradição, como necessidade ou como instrumento de poder. De maneira clara, eu respondo à pergunta feita: a norma culta é necessária. Usei o sinônimo “imprescindível” para o texto não ficar repetitivo, uma vez que as palavras “necessidade”, “necessária” estarão muito presentes na redação.

E como eu comprovo que o registro formal é necessário?
Vamos ao desenvolvimento.

D1: usar a norma padrão é necessário porque:
 O indivíduo que não comete desvios graves em relação à norma é bem visto, pois a comunicação funciona como seu marketing pessoal.
Ao final, eu exemplifico, citando a importância disso no ambiente profissional.
Vejam que a exemplificação ao final tornou o argumento mais forte. As ideias saíram do campo teórico e foram trazidas para a prática.
Em primeiro lugar, é importante considerar que há locais sociais, na maior parte das vezes, só alcançados por aqueles que dominam a língua padrão. A comunicação orientada pela norma funciona como marketing pessoal de um indivíduo, pois quanto melhor ele consegue se expressar, mais ele é observado pelos outros como instruído e mais passa credibilidade. Em termos de relações profissionais, por exemplo, isso é de extrema importância.

D2: usar a norma padrão é necessário, apesar do que dizem os linguistas:
Nesse parágrafo, eu trabalho com a contra argumentação. Penso nos argumentos de quem pensa diferente de mim e os uso a meu favor.
Outro ponto interessante a ser observado é que muitos que, em teoria, criticam a necessidade do uso formal da língua apresentam-se incoerentes em suas práticas. Um exemplo nesse sentido é o professor e escritor Marcos Bagno, que, comumente, em seus livros, apregoa a ideia de que seguir a gramática é uma forma de atraso, no entanto, seus textos são sempre bastante lapidados em termos de regras gramaticais. Bagno e outros linguistas radicais, ao contrário do que objetivam, comprovam que seguir as normas é uma questão de necessidade para se defender bem ideias.
Ao final do parágrafo, eu faço o arremate, ratificando a necessidade da norma padrão (trecho sublinhado).
Ponto importante: citar escritores é uma boa estratégia para dar ao texto um tom diferenciado, para fazer com que a redação se destaque no meio das outras.  Já fiz uma redação, também para um concurso para professor, em que eu deveria dizer se ainda havia preconceito racial no Brasil. Lembro-me de que falei sobre Gilberto Freyre e seu clássico Casa grande e senzala. (Vou ver se encontro essa redação).

D3: usar a norma padrão é necessário para que haja uma boa comunicação, porém linguagem padrão não é linguagem rebuscada:
Faz-se importante salientar, também, que quando se fala em seguir a norma culta, não se está defendendo usar linguagem difícil. O uso exagerado de regras pouco familiares no dia-a-dia e palavras rebuscadas são dispensáveis para a troca de mensagens entre interlocutores. Entretanto, o contraponto é necessário: a ausência total dessas regras pode também impedir que se estabeleça um natural processo de comunicação.
Começo o parágrafo dizendo que nem todas as normas precisam ser usadas no dia-a-dia para que se tenha uma boa comunicação. No entanto, como arremate, insisto: a ausência total de normas também pode ser prejudicial.

Reparem que em todos os parágrafos de desenvolvimento eu reforço, de forma explícita, o registro formal como necessidade. Ou seja, em todos os parágrafos, eu retomo a proposta da redação. Essa estratégia de explicitação é importante para que o avaliador não pense que em algum momento houve fuga parcial do tema.
 A conclusão
Por fim, minha conclusão pobrinha:
O ideal é que o falante saiba identificar em que contextos ele pode usar cada uma das variantes. Conhecer as duas é, portanto, fundamental.
Como já comentei no artigo anterior, está faltando criatividade nesse parágrafo. Mas também não se pode dizer que ele está errado. Retomei a minha frase-guia e fechei o texto.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Agora a minha redação

A redação que apresento abaixo foi produzida por mim em um concurso para professor. Copiei o rascunho do texto com dificuldade, pois a folha estava bem bagunçada. O título eu lembro que inseri na folha de respostas, mas não tenho a mínima ideia de qual foi, pois não estava no meu rascunho. Minha nota foi 9,7, mas, vendo agora, acho que poderia ser um pouco menos. Reparem a minha conclusão, típica de quem não tem mais tempo para escrever e finaliza com frases pouco desenvolvidas.
Bom, gostei das ideias que apresentei, mas não me agradou, em alguns momentos, o formato do texto.
O meu objetivo com essa postagem é analisar alguns pontos importantes sobre a estrutura do texto dissertativo-argumentativo. Nessa postagem, apresento o texto, na próxima publicação, farei os comentários.
E aproveitando que a redação está sem título, gostaria que vocês sugerissem algum. Muita gente não dá importância ao nome do texto, porém, um título criativo pode ser ótimo aliado para o autor. Um título criativo pode dar um “tchan” ao texto e aumentar a nota geral da redação.
É isso, leiam com calma, sugiram um título e, em seguida, analisaremos qual foi o mais adequado.



Tema
 Norma culta: tradição, necessidade ou instrumento de poder?



Os debates em torno do uso normativo da língua são sempre polêmicos. A expressão “linguagem culta” já é motivo para discussões, uma vez que, para muitos, tal expressão seria uma maneira de dizer que aqueles que não dominam a variante formal são incultos. O importante a se pensar, porém, é que ainda que a coloquialidade tenha seu espaço em determinados contextos, conhecer a norma culta – ou padrão – é imprescindível.
Em primeiro lugar, é importante considerar que há locais sociais, na maior parte das vezes, só alcançados por aqueles que dominam a língua padrão. A comunicação orientada pela norma funciona como marketing pessoal de um indivíduo, pois quanto melhor ele consegue se expressar, mais ele é observado pelos outros como instruído e mais passa credibilidade. Em termos de relações profissionais, por exemplo, isso é de extrema importância.
Outro ponto interessante a ser observado é que muitos que, em teoria, criticam a necessidade do uso formal da língua apresentam-se incoerentes em suas práticas. Um exemplo nesse sentido é o professor e escritor Marcos Bagno, que, comumente, em seus livros, apregoa a ideia de que seguir a gramática é uma forma de atraso, no entanto, seus textos são sempre bastante lapidados em termos de regras gramaticais. Bagno e outros linguistas radicais, ao contrário do que objetivam, comprovam que seguir as normas é uma questão de necessidade para se defender bem ideias.
Faz-se importante salientar, também, que, quando se fala em seguir a norma culta, não se está defendendo usar linguagem difícil. O uso exagerado de regras pouco familiares no dia-a-dia e palavras rebuscadas são dispensáveis para a troca de mensagens entre interlocutores. Entretanto, o contraponto é necessário: a ausência total dessas regras pode também impedir que se estabeleça um natural processo de comunicação.
O ideal é que o falante saiba identificar em que contextos ele pode usar cada uma das variantes. Conhecer as duas é, portanto, fundamental.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Agora a conclusão

Introdução
Em uma visão panorâmica de nossos últimos candidatos a cargos públicos, tem-se a impressão de que a preocupação de muitos está mais direcionada à apresentação de suas ideias do que a sua real efetivação. Logo se vê que o ditado popular “A propaganda é a alma do negócio” é levado bem a sério por tais brasileiros. Talvez o que lhes falte é uma análise profunda dos problemas enfrentados pelo país, para que depois sejam apresentadas propostas e ideias que realmente venham trazer soluções na prática.
Conclusão
Logo se percebe, em meio a tudo isso, que boas ideias não são o suficiente para se melhorar o bom andamento de nosso país, e sim, É necessário um  profundo conhecimento das dificuldades que esse país enfrenta, estar ciente domínio de suas leis, na integra e como elas funcionam e um real interesse de todos para que, uma-a-uma, essas dificuldades sejam vencidas e exterminadas pela raiz.

Essa é a última postagem sobre a redação da minha ex-aluna. Inseri novamente a introdução para que seja feita a comparação entre início e fim de texto.
Aliás, esse é um ponto importantíssimo quando falamos em conclusão. O último parágrafo deve ser baseado na introdução. O posicionamento apresentado no primeiro parágrafo deve ser reafirmado no último para que se garanta a coerência e a circularidade do texto. Ou seja, o texto deve ser finalizado com a mesma ideia que o iniciou.
A autora começou dizendo que não há um estudo criterioso sobre os problemas do nosso país e que os candidatos a cargos público se preocupam mais com apresentação de ideias do que com sua real efetivação. Para finalizar o texto, ela inicia a conclusão com essa mesma ideia: apresentação de ideias não é o suficiente para solucionar os problemas do país. Em seguida, ela apresenta algumas medidas para que esse problema seja resolvido.
Acho que todos sabem que no Enem é necessário inserir propostas de solução. Esse item vale até dois pontos no texto.
Na conclusão apresentada, achei a proposta de solução muito vaga. A autora poderia ter sido mais específica, poderia ter apresentado propostas mais concretas para a solução do problema. Por exemplo, ela poderia ter citado que é necessário que os políticos trabalhem em busca de um sistema menos moroso, poderia ter sugerido uma reestruturação no sistema educacional, com o objetivo de fazer com que os jovens conheçam mais o nosso sistema político e que se interessem mais pelo assunto etc.
Por fim, um ponto muuuito importante: não continue tentando defender sua ideia no último parágrafo. Vejo muitas conclusões em que o autor apresenta novos argumentos e continua defendendo seu ponto de vista. O espaço para argumentar é apenas o desenvolvimento. A estrutura da conclusão é a seguinte – para o Enem
Reafirmação da frase-guia da introdução + propostas de solução.
É isso, gente!
Até a próxima!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dois parágrafos de desenvolvimento

Continuo com a redação da minha ex-aluna. O foco agora são os parágrafos de desenvolvimento. A introdução, que já analisada por aqui, foi inserida para facilitar a compreensão do texto.

Tema: Por que o brasileiro não consegue realizar na prática as ideias que lhe parecem adequadas ao desenvolvimento do país?

Boas ideias não são suficientes
Em uma visão panorâmica de nossos últimos candidatos a cargos públicos, tem-se a impressão de que a preocupação de muitos está mais direcionada à apresentação de suas ideias do que a sua real efetivação. Logo se vê que o ditado popular “A propaganda é a alma do negócio” é levado bem a sério por tais brasileiros. Talvez o que lhes falte é uma análise profunda dos problemas enfrentados pelo país, para que depois sejam apresentadas propostas e ideias que realmente venham trazer soluções na prática.
Essa preocupação em apresentar suas ideais, é uma luta desesperada para se chegar onde quer. A intenção é de agradar ao público, e em suas palavras e promessas não há a real preocupação se serão cumpridas ou não. Os problemas existentes não são analisados a fundo antes de se propor tais ideias. São dadas, no papel, soluções de problemas vividos no dia a dia dos brasileiros, que  na realidade tais soluções não podem ser cumpridas, pois esbarrão em leis já existentes que as proíbem de serem realizadas.
Além disso, temos visto em eleições passadas, por diversas vezes, outra situação se repetir. Pessoas que talvez, estivessem cheias de boas intenções e ideias que lhes pareciam bem adequadas para melhorar a vida do cidadão brasileiro, mas quando chega na prática, vê que não é tão simples assim. Suas ideias são muito boas no papel, mas á uma dificuldade para cumpri-las, pois não depende só dessas pessoas para que suas ideias tenham um bom desenvolvimento quando colocadas em pratica.

Comentários
Projeto de texto:
Introdução
Boas ideias não são praticadas porque os interessados em representar a nação não analisam os problemas com profundidade, preocupam-se mais em apresentar propostas.
Desenvolvimento
D1 à Estudos aprofundados sobre os problemas nacionais não acontecem porque alguns governantes não têm a real intenção de resolvê-los. Desejam apenas ganhar as eleições.
D2 à Em alguns casos, há governantes com real intenção de mudanças, mas que não conseguem efetivar suas ideias por se depararem com dificuldades inerentes ao próprio sistema.
São essas as duas causas de o brasileiro não pôr em prática ideias favoráveis ao desenvolvimento do país. Cada causa foi apresentada em um parágrafo, garantindo a organização das ideias.
A forma
Assim como na introdução, o desenvolvimento apresenta um bom conteúdo, mas alguns problemas em relação à forma. Segue a correção enviada à autora:
Essa preocupação em apresentar suas ideais, é uma luta desesperada de alguns políticos para se chegar aonde quer. A intenção é de agradar ao público, e em suas palavras e promessas não há a real preocupação de tornar tais projetos reais. se serão cumpridas ou não. Os problemas existentes não são analisados a fundo antes de se proporem tais ideias. São dadas, no papel, soluções de para problemas vividos no dia a dia dos brasileiros, que porém, na realidade, sabe-se que  tais soluções não podem ser cumpridas, pois esbarrão esbarram em leis já existentes que as proíbem de serem realizadas.
Além disso, temos visto já se viu em eleições passadas, por diversas vezes, outra situação se repetir. Pessoas que, talvez, estivessem cheias de boas intenções e ideias que lhes pareciam bem adequadas para melhorar a vida do cidadão brasileiro, mas que não conseguiram pôr em prática suas propostas, porque se depararam com dificuldades do próprio sistema. quando chega na prática, vê que não é tão simples assim. Suas ideias são eram muito boas no papel, mas á uma grande dificuldade para cumpri-las, pois não depende só dessas pessoas para que suas ideias tenham um bom desenvolvimento quando colocadas em pratica. (Esse argumento final está sendo dito pela segunda vez nesse parágrafo, apenas com palavras diferentes. Por isso, sugeri a retirada do trecho). Um exemplo ao final desse parágrafo tornaria a argumentação ainda mais forte.




Desenvolvimento analisado!
 Na próxima postagem, publicarei a conclusão dessa dissertação e os comentários gerais sobre o texto.
Até a próxima!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Análise de introdução

Transcrevo aqui a introdução de uma redação feita por uma ex-aluna. Ela não pôde permanecer no curso, mas continuou estudando em casa e me enviou o texto para correção.
Obrigada por autorizar a postagem, querida!! J


Tema: Por que o brasileiro não consegue realizar na prática as ideias que lhe parecem adequadas ao desenvolvimento do país?

                     Boas ideias não são suficientes
Em uma visão panorâmica de nossos últimos candidatos a cargos públicos, como deputados federais e estaduais, senadores, prefeitos, etc., tem-se a impressão que a preocupação de muitos está mais direcionada a apresentação de suas ideias, do que se realmente irão ou não cumpri-las. Logo se vê que o ditado popular “A propaganda é a alma do negócio” é levado bem a sério por tais brasileiros. Talvez o que lhes falte é uma análise profunda dos problemas enfrentados pelo país, para que depois sejam apresentadas propostas e ideias que realmente venham trazer soluções na prática.

Comentários
- Introdução com bom conteúdo, mas com alguns problemas relativos a normas e à organização frasal – correção abaixo.
- Para iniciar o texto, a autora fala que os candidatos a cargos públicos parecem que não estão, de fato, interessados em solucionar problemas, parecem que querem apenar dizer que têm propostas, independente de elas poderem ou não ser efetivadas.
- Atente para o bom recurso de relativização da linguagem. Em vez de dizer que os candidatos não estão interessados em cumprir promessas, ela diz que “tem-se a impressão” de que eles não estão interessados. Trata-se de um ótimo recurso para que a linguagem fique mais ponderada, menos radical.
- Em “Em uma visão panorâmica de nossos últimos candidatos a cargos públicos, como deputados federais e estaduais, senadores, prefeitos, etc”, a parte sublinhada poderia ter sido suprimida, pois a especificação dos cargos públicos nada acrescenta à mensagem.
- Sobre o mesmo trecho, reparem o uso da vírgula antes de “etc”. Essa questão é polêmica, pois há divergência entre autores a esse respeito. Alguns condenam o uso da vírgula, outros defendem a sua utilização. Dessa forma, fique à vontade para inseri-la ou não. Já em relação ao uso do “e” antes do “etc”, não há divergência: ele não deve ser utilizado. “Etc” é abreviatura de “et caetera”, que significa “e outras coisas”. Então, se a expressão já apresenta o “e” não há necessidade de repeti-lo. Minha orientação é sempre de cautela em relação ao uso do “etc” na redação, pois tem gente que se empolga e o utiliza o tempo todo e, na maioria das vezes, desnecessariamente. Ahh... também não use reticências após o “etc”.
- No último período da introdução, temos a frase-guia, aquela que apresenta o posicionamento da autora sobre o tema. Quando ela diz
Talvez o que lhes falte é uma análise profunda dos problemas enfrentados pelo país, para que depois sejam apresentadas propostas e ideias que realmente venham trazer soluções na prática.”, tem-se a resposta à pergunta-tema:
 o brasileiro não consegue realizar na prática boas ideias para o desenvolvimento do país porque os interessados em representar a nação não analisam os problemas com profundidade, querem apenas apresentar promessas para ganharem a eleição.
No desenvolvimento, a autora deverá comprovar essa tese.
- Em termos de conteúdo, a introdução produzida está boa. Há uma contextualização do assunto e, depois, uma frase-guia que responde à pergunta da proposta e norteará o desenvolvimento da redação. Veja agora as correções feitas em relação à forma do texto:

Em uma visão panorâmica de nossos últimos candidatos a cargos públicos, como deputados federais e estaduais, senadores, prefeitos, etc., tem-se a impressão de que a preocupação de muitos está mais direcionada na à apresentação de suas ideias, do que a sua real efetivação. se realmente irão ou não cumpri-las. Logo se vê que o ditado popular “A propaganda é a alma do negócio” é levado bem a sério por tais brasileiros. Talvez o que lhes falte é uma análise profunda dos problemas enfrentados pelo país, para que depois sejam apresentadas propostas e ideias que realmente venham trazer soluções na prática.

Mais comentários:
- Regência: “[...] tem-se a impressão DE que”. Quem tem impressão tem impressão DE alguma coisa.
- Acento grave: “[...]a preocupação de muitos está mais direcionada À apresentação de suas ideias [...]”. O acento grave é necessário porque houve a junção AA ( A- preposição exigida por “direcionado” + A- artigo exigido pela palavra feminina e no singular “apresentação”).  O que está direcionado está direcionado A / A apresentação.
- Sugeri a substituição de “[...]estão mais direcionados à apresentação de suas ideias do que se realmente irão ou não cumpri-las” por “[...] estão mais direcionados à apresentação de suas ideias do que a sua real efetivação”. Isso porque não cumprimos ideias, cumprimos promessas. As ideias nós colocamos em prática, as efetivamos.
É isso!

sábado, 17 de setembro de 2011

As últimas da UERJ

 A PALAVRA (Rubem Braga)

Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito - como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento - e depois esqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio um pouco alto durante uma transmissão de jogo de futebol... mas o canário não cantava.
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica de Beethoven - e o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta ligação entre a alma do velho artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?
Alguma coisa que eu disse distraído - talvez palavras de algum poeta antigo - foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo, iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças.

Em um momento tão estressante como a prova de vestibular, ler um texto desses pode fazer o candidato sorrir um pouco.
E as questões relacionadas não estavam difíceis.

Questão 10 – Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
O ofício a que Rubem Braga se refere é o seu próprio, o de escritor. Para caracterizá-lo, além do adjetivo “imprudente”, ele recorre a uma metáfora: “viver em voz alta”.
O sentido dessa metáfora, relativa ao ofício de escrever, pode ser entendido como:
(A)  Superar conceitos antigos
(B)  Prestar atenção aos leitores
(C)  Criticar prováveis interlocutores
(D)  Tornar públicos seus pensamentos
Essa estava moleza!! Se o autor é escritor, seus pensamentos se materializam na escrita, e as pessoas que o leem podem acabar, vez ou outra, sendo feridas por conta de alguma coisa que ele tenha divulgado em seus textos. Ele percebe que isso acontece quando se depara com alguns olhares atravessados no dia-a-dia. Letra D.

Questão 11Alguma coisa que eu disse distraído – talvez palavras de algum poeta antigo – foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém.
O cronista revela que sua fala ou escrita pode conter algo escrito por “algum poeta antigo”. Ao fazer essa revelação, o cronista se refere ao seguinte recurso:
(A)  Polissemia
(B)  Pressuposição
(C)  Exemplificação
(D)  Intertextualidade
Intertextualidade é quando fazemos conexões entre textos. Por exemplo, todo mundo que vê o quadro abaixo, do Botero, (aliás, vale a pena conferir toda a sua obra... ele é maravilhoso!!!) acha certa graça. E isso acontece porque a pessoa faz a conexão com o texto de Da Vinci. Isso se chama intertextualidade.

Há uma música do Chico Buarque, chamada Bom Conselho, em que também ocorrem essas pontes entre textos. Veja:
“Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir
Que a dor não passa.

Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado
Quem espera nunca alcança”.
Acho que todo mundo quando lê esse texto se lembra dos ditados populares. Isso também é intertextualidade.
Na verdade, muito do que dizemos no dia-a-dia pode estar conectado a alguma coisa que lemos ou ouvimos em algum tempo. Ó: intertextualidade.
Então, quando o cronista diz que pode ter dito palavras de algum poeta, o cronista faz referência à intertextualidade.
Pronto! Letra D.

Questão 12O episódio do canário traz uma contribuição importante para o sentido do texto, ao estabelecer uma analogia entre a palavra do escritor e a música assobiada pela amiga.
A inserção desse episódio no texto reforça a seguinte ideia:
(A)  A intolerância leva o artista ao isolamento
(B)  A arte atinge as pessoas de modo inesperado
(C)  A solidão é remediada com soluções artísticas
(D)  A profissão envolve o artista em conflitos desnecessários
Assim como o assobio da mulher, sem nenhum propósito, fez com que o canário cantasse, as palavras do escritor, também sem nenhum propósito, podem encantar ou desencantar alguém. Ou seja, a arte atinge as pessoas de modo inesperado. Letra B!
Tranquila também!

Questão 13Toda a indagação do cronista acerca da palavra se baseia na diferença entre a importância que ela pode ter, por um lado, para quem escreve e, por outro, para quem a lê.
O par de vocábulos que melhor exemplifica essa diferença no texto é:
(A)  Esqueci (l.9) – feri (l.1)
(B)  Ofício (l.3) – consolo (l.4)
(C)  Espontânea (l. 8) – secreta (l. 16)
(D)  Reconciliar (l.5) – despertar (l.18)
Para os preguiçosos, uma questão como essa pode perturbar um pouco. É preciso analisar todas as opções para identificar o par que representa a importância da palavra para quem escreve e para quem lê.
A letra A é a que faz sentido. Sabe aquela história de que quem bate esquece, mas quem apanha não? (Acabei fazendo conexão entre dois textos: intertextualidade de novo!). Pois é... o par “esquecer – ferir” acaba se relacionando a essa ideia. Às vezes o escritor diz alguma coisa que considera sem a mínima importância, uma palavra que diz distraído e depois até esquece. Já quem recebe tal palavra pode ser tocado por ela, de forma positiva ou negativa. A palavra pode fazer a pessoa se reconciliar consigo mesma ou pode ferir.
Esse é o raciocínio!! Mas para chegar a ele eu li várias vezes todas as opções apresentadas.

Questão 14Às vezes, também (l.4)
Ao estabelecer a coesão entre os dois primeiros parágrafos, a palavra “também”, nesse contexto, expressa determinado sentido.
Considerando esse sentido, “também” poderia ser substituído pela seguinte expressão:
(A)  Desse modo
(B)  Por outro lado
(C)  Por conseguinte
(D)  Por consequência
Errou essa questão quem não voltou ao texto para fazer a análise. Sem uma releitura, a tendência é marcar a letra A – desse modo -, pois é a expressão mais parecida com “também”. Acho até que essa opção não estava na letra A à toa. A emboscada serviu para os apressados.
Analisando os parágrafos: no primeiro, o tema são as pessoas que são feridas com as palavras do autor. No segundo parágrafo, por outro lado, o tema são as pessoas que acabaram se reconciliando consigo mesmas devido às palavras do autor.
O “também”, nesse caso, tem o sentido de “por outro lado”, “ao contrário”. Letra B!

Questão 15O final do texto revela uma reflexão do escritor acerca do poder da sua escrita, a partir da menção a uma princesa e a um povo.
Essa menção sugere, principalmente, que o escritor deseja que suas palavras tenham o poder de:
(A)  Desfazer as ilusões antigas
(B)  Permear as classes sociais
(C)  Ajudar as pessoas discriminadas
(D)  Abolir as hierarquias tradicionais
Essa foi a questão que mais me deu trabalho. Fiquei muito em dúvida entre as letras A e B. Explico:
Apesar de haver a referência ao sorriso da princesa deixando o povo mais feliz, o que leva à marcação da letra B (gabarito oficial), pensei em mais uma hipótese.
Eu entendo também que a princesa sorrindo, e toda a felicidade do seu povo, representam o encantamento de uma só pessoa, como se alguém passasse a ser totalmente transformado por uma palavra. Para mim, o último parágrafo pode sugerir que o escritor deseja que suas palavras tenham o poder de transformar o dia, a vida de alguém, desfazendo antigas ilusões.
Bom, o gabarito não vai mudar. Isso já foi divulgado no site. A resposta é a B: o leitor deseja permear as classes sociais com as suas palavras.
E aqui termina o momento UERJ!
Espero que os comentários tenham ajudado.
Até!!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Mais um pouquinho dele..

O corpo existe e pode ser pego.
É suficientemente opaco para que se possa vê-lo.
Se ficar olhando anos você pode ver crescer o cabelo.
O corpo existe porque foi feito.
Por isso tem um buraco no meio.
O corpo existe, dado que exala cheiro.
E em cada extremidade existe um dedo.
O corpo se cortado espirra um líquido vermelho.
O corpo tem alguém como recheio.

Arnaldo Antunes